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Artigo

Substituindo importações

Adary Oliveira

14/01/2022 06h09

Foto: Divulgação

A diretriz de substituir importações e gerar excedentes exportáveis, tida como um dos objetivos do II Plano Nacional do Desenvolvimento (PND), continua válida e ainda não se esgotou, como foi alardeado por alguns economistas. A ideia da desconcentração concentrada aludida por Rômulo Almeida como estratégia de desenvolvimento regional, dentro da qual se inseriu a petroquímica, volta a ganhar força com inovações que definem cadeias de investimentos com nova roupagem. Refiro-me especialmente à oferta crescente de gás natural do Pré-sal produzido no Sudeste e transportado para o Nordeste por mais de dois mil quilômetros através de dutos.

Fato semelhante, a inversão, passamos a ver com veículos na Rio-Bahia sendo transportados pelos caminhões cegonha, do Nordeste para o Sudeste, num movimento contrário ao do transporte dos bens manufaturados subindo, e de matérias-primas descendo. As fábricas de fertilizantes nitrogenados de Camaçari (BA) e Laranjeira (SE) dão força a esse novo acontecimento. Para se ter uma ideia do que isso pode representar para um movimento de substituição de importações, cito aqui dois exemplos que dão a dimensão da oportunidade, a produção de amônia e ureia, puxadas pelo agronegócio, e a produção de metanol, tracionada pelo setor de transporte rodoviário de cargas. Nos parágrafos seguintes apresento dados de comércio exterior obtidos no site do Comex Stat do Ministério da Economia.

De um lado, a principal aplicação do gás natural, rico em metano, é na fabricação de amônia e ureia. A amônia é usada como fertilizante além de ser o principal insumo da fabricação da ureia. Esta é consumida na formulação dos fertilizantes NPK (o N é do nitrogênio extraído do ar atmosférico e contido na ureia) pelas companhias conhecidas como misturadoras, localizadas no interior e próximas aos locais de consumo. Em 2021 o Brasil importou 534,2 mil toneladas de amônia por US$ 230,6 milhões ao preço FOB de US$ 431,60/t e 7,8 milhões de toneladas de ureia por US$ 3,0 bilhões ao preço FOB de US$390,52/t. Se forem somados os custos do transporte e internação pode-se avaliar o grande volume de recursos dispendidos pelo agricultor brasileiro dedicado ao agronegócio. Como as fábricas acima citadas só produzem cerca de 20% da demanda desses produtos se pode avaliar o tamanho da substituição de importações que teríamos que fazer para sermos autossuficientes.

Do outro lado, o metanol importado para fabricar biodiesel (reação de transesterificação) alcançou 1,4 milhão de toneladas pelo valor de US$ 558,66 milhões, preço FOB de US$ 397,39/t. Se somarmos as demais importações de outros produtos que podem ser fabricados a partir do gás natural chegaremos a um volume equivalente superior a US$ 4 bilhões. Para a fabricação de tudo isso em território nacional, usando gás natural de nossa produção e nitrogênio extraído do ar atmosférico, poderíamos gerar mais de cinco milhões de novos empregos bem remunerados. Se fizermos um pouco mais poderíamos manufaturar excedente exportável.

As companhias que estão explorando o gás natural no Pré-sal da Bacia de Santos têm o custo adicional de remover o gás carbônico que contamina o gás nas unidades de extração a 300 km da costa. O gás removido é altamente corrosivo e não pode ser transportado para o continente, mas é aproveitado para ser reinjetado nos poços, o que aumenta a produtividade do petróleo extraído. Se as petroleiras usarem parte dessa vantagem para reduzir o preço do gás natural que está sendo vendido no Nordeste, tornarão o negócio aqui descrito mais atrativo, aumentando as chances desse sonho se tornar realidade.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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