07/07/2020 15h20
Foto: Divulgação
Os usuários dos trens da SuperVia, no Rio de Janeiro, poderão ficar sem o transporte público em agosto. Alegando perdas mensais de R$ 30 milhões por conta das medidas de isolamento social adotadas como forma de combate ao avanço do coronavírus, a concessionária admite que se não houver apoio financeiro, não terá caixa suficiente para cumprir todos os seus pagamentos, o que colocará em dificuldades a operação dos trens já a partir do mês que vem.
Em entrevista, Kazuhisa Ota, presidente da Gumi, braço de mobilidade urbana da Mitsui, a principal acionista da SuperVia, reconheceu que a empresa se encontra numa "situação-limite", e em dificuldade de fazer pagamentos. Ele disse ainda que o fato já foi comunicado ao governo do Estado do Rio de Janeiro e ao governo federal. As dificuldades da concessionária também têm sido objeto de reuniões frequentes com o BNDES, que detém R$ 700 milhões de créditos no negócio e é acionista com 3,5% do capital. “Estamos com um grande buraco no caixa — disse o executivo.
A concessionária informou que antes das medidas de restrição no transporte público, a SuperVia transportava cerca de 600 mil passageiros nos dias úteis. Após a decretação do isolamento social a queda diária no volume de usuários transportados atingiu 74%, tendo depois se estabilizado em 65%, o que significava 400 mil passageiros a menos transportados diariamente nos trens do Rio.
Após a flexibilização das medidas de restrição, ocorridas há pouco mais de um mês, a companhia percebeu um aumento de apenas 5% no número de passageiros diários. A expectativa da SuperVia é de que a crise deve perdurar por um longo tempo, fazendo com que a recuperação do movimento de passageiros seja normalizado somente no segundo semestre de 2021.
A concessionária alega que também perdeu receitas não-tarifárias, uma vez que metade das lojas e quiosques existente nas estações de trem está fechada e a inadimplência atinge 80%. "Como o sistema de trens não conta com subsídios, a manutenção da empresa depende basicamente da venda de bilhetes. A situação se agrava porque os custos com mão de obra e energia são praticamente fixos, independente da queda de movimento de passageiros", informou a SuperVia.
A empresa diz ter contabilizado perda de R$ 102 milhões desde o início da pandemia, numa média aproximada de R$ 30 milhões mensais. Nos primeiros meses, quando a perda de passageiros foi maior, esta média atingiu R$ 40 milhões. A concessionária informou que tem feito um grande esforço de melhoria de caixa, com corte de despesas, para compensar essa perda de receita.
Para evitar demissões e preservar os empregos, a empresa informou que adotou, a partir de maio a redução de 25% na jornada e nos salários de 2 mil funcionários. Afirmou ainda que, paralelamente vem buscando uma solução financeira por meio de várias negociações junto ao governo do Estado, ao BNDES, e a órgãos federais, "a fim de garantir a manutenção da operação do sistema de trens do Rio de Janeiro", sem que nenhum apoio tenha se concretizado até o momento.
Para o secretário estadual de Transportes Delmo Pinho, que considera esta a pior crise de transporte público do Brasil dos últimos 50 anos, a situação da SuperVia e do Metrô Rio são gravíssimas por serem patrimônios públicos muito grandes, que já vinham operando abaixo da capacidade e que refletem como que o sistema de transportes brasileiro é um dos primeiros setores a sentir os impactos de uma crise. Para isso, ele estima que, em geral, as empresas de transporte do Estado — seja trem, metrô, barcas e ônibus intermunicipal e municipal — precisariam de um subsídio estatal de até R$ 150 milhões por mês e por um semestre.
— Esta é uma projeção que fizemos até o final do ano, mas esse dinheiro não pode ser dado para as empresas. Ele precisa ser aportado e rigidamente controlado pelas autoridades públicas. É provável que em janeiro ou fevereiro do ano que vem não se precise mais disso — disse Delmo.
O secretário também informou que está em consulta com a Procuradoria Geral do Estado para discutir estes casos emergenciais no transporte público do Estado, e que estão pleiteando ao governo federal um apoio para que se possa levar essa preocupação a nível nacional:
— Nós temos que montar uma política nacional para o transporte público que seja transparente nas informações sobre o controle dos passageiros, as receitas tarifárias e administração dos consórcios. Este é um setor vital para o giro da economia e que precisa ser completamente reorganizado no país. Com certeza esta é uma oportunidade.
Fonte: O Globo