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Artigo

Terminais portuários baianos perdem competitividade

Augusto Cezar Ribeiro Costa

13/05/2021 06h06

Foto: MF

Apesar do Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia galgar nos últimos anos um índice em torno de 4,1% do PIB nacional, o de maior patamar do norte/nordeste, considerando ainda que nosso estado ostenta a liderança das exportações na região e ser a sétima maior economia do país, o resultado não é refletido quando se refere ao desempenho dos terminais portuários baianos, sejam eles portos públicos ou de uso privado, quando comparados aos terminais de alguns estados nordestinos, nossos concorrentes mais diretos, cujos índices econômicos são bem mais discretos.

Dados estatísticos apresentados no site da Agencia Nacional dos Transportes Aquaviários (Antaq) referentes aos terminais portuários localizados nos estados de Pernambuco e Ceará, por exemplo, deixam bastante evidente a discrepância quanto à evolução no desempenho daqueles terminais em relação aos instalados no solo baiano, ainda que, estes últimos mantenham certa liderança em volume por tonelada movimentada.

Alguns dados extraídos do site da Antaq – volume de carga movimentada - e outros publicados pelo IBGE, - relativo ao PIB -, por si só mostram claramente que há perda de competitividade dos nossos terminais em relação aos instalados nos estados do Ceará e Pernambuco, quando é avaliado por essas duas variáveis.

O PIB cearense nos últimos 10 anos representou pouco mais de 2,1% em relação ao PIB nacional; já o PIB pernambucano também em igual período ficou na faixa dos 2,4%. Neste mesmo período, o Produto Interno Bruto da Bahia girou em torno de 4,1%, ou seja, praticamente o dobro daqueles dois estados.

Contudo, quando se avalia o desempenho dos terminais portuários instalados nos três estados, torna-se notória a perda de competitividade dos portos baianos em relação aos dois estados nordestinos em relação ao volume de carga movimentada.

Senão vejamos: Em 2010, o volume movimentado nos terminais portuários baianos somou 35,3 milhões de toneladas, enquanto no Ceará atingia pouco mais de 7,9 milhões e os pernambucanos 10,7 milhões. Ou seja, aqueles dois juntos, dez anos atrás não somavam a metade do que era movimentado pelos terminais baianos.

Cinco anos depois, os patamares passaram por mudanças expressivas, com os portos cearenses movimentando 11,7 milhões de toneladas, com crescimento de 47,9% em relação a 2010, os pernambucanos 21,2 milhões, evoluindo em 97,8% em relação ao mesmo período. Já os terminais em nosso estado somavam 40,9 milhões, crescimento de 15,6% de 2010 para 2015.

Nos recentes resultados de 2020, a perda de competitividade ficou ainda mais evidente, onde os terminais cearenses movimentaram 21,1 milhões de toneladas, crescimento de 80,6% em relação a 2015 e de 167,1% quando comparado a 2010; os terminais de Pernambuco somaram neste último ano 26,9 milhões, com evolução de 27,3% em relação 2015 e de 151,7% ao comparado a 2010. Já os terminais instalados em nosso estado registraram recuo em 2015 em relação a 2010, e um crescimento de apenas 13,9% no comparativo a 2010 para 2020, conforme tabela abaixo.

Evolução em percentuais nos terminais portuários

Terminais

     2015/2010

       2015/2020

     2020/2010

Baianos

         15,6%

        (1,5)%

        13,9%

Cearenses

         47,9%

         80,6%

       167,1%

Pernambucanos

         97,8%

         27,3%

       151,7%

 

Na Bahia, estado que detém o maior do PIB do nordeste, os três portos públicos administrados pela Companhia das Docas do Estado da Bahia - Codeba movimentam anualmente em torno de 10 a 12 milhões de toneladas e não passam disso. Nos terminais privados se mantém na faixa das 26 a 28 milhões de toneladas. São dados históricos e conservadores. Em Pernambuco, os portos do Recife e Suape, e, os de Fortaleza e Pecém no Ceará, ambos estados com PIBs bem menores que o nosso movimentaram um volume de carga mais que o dobro neste último ano. Pelo que tudo sinaliza seremos ultrapassados por eles por volta de 2022 ou 2023.

Então o que está faltando para os terminais baianos saírem dessa inércia e competirem em igualdade de condições?

Propaladas divulgações sobre investimentos para os portos públicos baianos previstos inclusive no Plano Mestre e PDZ, além das investidas para instalação de novos terminais privados na Baia de Todos os Santos, a exemplo da Brasken e Bahia Terminais, ou estão à deriva sem previsões de vir a ser concretizados ou andam a passos lentos nos órgãos reguladores do governo federal. Adicionado a esses fatores se somaram até então as tímidas ações de gestão que prevaleceram na Codeba, sem conseguir nesses últimos anos, sequer manter um quadro diretivo que falasse a mesma linguagem ou mesmo que seus executivos se mantivessem estáveis na função para cumprir os períodos dos seus mandatos. Tais condições certamente dificultaram o desenvolvimento de ações comerciais, administrativas e operacionais, e por conseguinte, a própria gestão.

Mercado ou Gestão?

Mercado não parece ser, porque ele é amplo tanto a nível interno quanto ao internacional, mas, deixa transparecer que um bom volume de nossa carga está sendo escoado ou recebido através dos portos nordestinos, nossos concorrentes mais próximos, e também aos mais distantes a exemplo do Porto de Santos.

Gestão, se existe, tem sido tímida até então, visto que necessita de ações mais efetivas, que ofereçam as condições de infraestrutura adequada que permitam atração de novos negócios e usuários especialmente para nossos portos públicos. Felizmente, parece se desabrochar uma luz no fim do túnel com o recente arrendamento dos terminais de graneis sólidos no Porto de Aratu-Candeias, com a ampliação e modernização do terminal de contêineres operado pela Tecon Salvador e por parte do setor privado a tão esperada construção do Porto Sul.

Sigamos, portanto, os exemplos dos terminais cearenses e pernambucanos que, como ficou evidenciado, passam céleres em nossa frente e estão nos deixando para trás.

E a questão é: eles têm gestão ou mercado, com um PIB 50% inferior ao nosso?

Augusto Cezar Ribeiro Costa – Estatístico, trabalhou 51 anos na Companhia das Docas do Estado da Bahia - Codeba e, atualmente, é diretor Administrativo-Financeiro do portal Modais em Foco.

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