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Entrevista

Tramm: ‘Até 2025, serão investidos mais de R$70 bi no estado’

O presidente da CBPM diz que, além da logística e de investimentos em pesquisa, é preciso também que ocorra uma desburocratização

22/03/2022 08h00

Foto: Divulgação

Há cerca de dois anos, o setor baiano de mineração despontou como um dos principais do país. Hoje, a Bahia está em terceiro lugar em faturamento, atrás apenas do Pará e Minas Gerais. Em entrevista exclusiva ao BAdeValor, o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antônio Carlos Tramm,  fala sobre as perspectivas para a mineração e o que fez o estado sair da quinta para a terceira posição em tão pouco tempo.

Quanto faturou o setor baiano de mineração em 2021? Quanto movimenta e qual a perspectiva para 2022?

A Bahia registrou, em 2021, um crescimento de 67% no faturamento da sua produção mineral, em comparação a 2020. O faturamento foi de R$ 9,5 bilhões contra os R$ 5,7 bilhões do ano anterior.  Para 2022, a expectativa é que o crescimento seja ainda maior e que continue nessa crescente.

A Bahia hoje é o terceiro estado com maior receita em mineração, atrás apenas de Pará e Minas Gerais. Mas existe uma diferença grande de faturamento entre eles. Enquanto Pará e Minas faturam mais de R$ 140 bilhões, a Bahia ficou bem abaixo disso. Por que é tão grande essa diferença? Acredita que a Bahia ainda possa ultrapassar esses dois estados?

A Bahia encerrou o ano de 2021 como o terceiro maior produtor mineral do país. O grande diferencial desses estados é a produção do minério de ferro, que é muito maior do que na Bahia. Mas nos últimos anos estamos aumentando a nossa produção. Atualmente somos o quarto colocado na produção de minério de ferro, mas a perspectiva é que com os novos projetos que estão sendo instalados como o da Bamin é que nos próximos anos sejamos o terceiro maior produtor e, com isso, aumentamos também a nossa participação de mercado.

Há aproximadamente dois anos éramos o quinto e hoje já somos o terceiro produtor mineral do país, vamos continuar trabalhando para dia após dia melhorar a mineração baiana. A diferença, hoje, do que é produzido pelo Pará e por Minas é muito grande, mas vamos chegar lá!

Quais os gargalos do setor de mineração na Bahia?

A logística é um dos principais problemas que enfrentamos. Atualmente, o transporte até os portos, de boa parte da produção de minérios da Bahia, é feito por caminhões.  Transportar de caminhão é caro, demorado, desgasta as estradas e polui muito mais do que se fosse transportado por trem. A malha ferroviária do estado é praticamente inexistente.

A Bahia teve uma luta muito grande para poder destravar o andamento das obras da Fiol  (Ferrovia Oeste-Leste), o que ajudará bastante não apenas na evolução da mineração como a de outros setores, mas ainda temos muito caminho pela frente. Nossa luta agora é pela revitalização da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), que é o principal eixo de integração entre as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-oeste. A VLI, empresa que há 25 anos tem a concessão dessa ferrovia que passa pela Bahia, abandonou boa parte dos trechos que cortam o nosso estado. Um relatório interno elaborado em novembro de 2020 pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) conclui que a VLI concentrou 90% da sua operação em apenas 2.341 km dos 7.094 km totais da ferrovia e vem diminuindo a cada ano a quantidade de clientes regulares.

Esses trechos incluem toda a malha na Bahia, toda a do Rio de Janeiro e alguns trechos em Minas, São Paulo e Goiás. Os outros 4.753 km que não interessam à VLI estariam com manutenção inadequada ou inexistente. E a ANTT insiste em renovar a concessão da linha por mais 25 anos.

Além disso, o que falta para Bahia se destacar mais no setor?

Além da logística e de investimentos em pesquisa é preciso também ocorrer uma desburocratização e modernização na atuação de alguns órgãos ligados ao setor como é o caso da Agência Nacional de Mineração (ANM). A CBPM, por exemplo, única empresa estatal do segmento no país e que está prestes a completar 50 anos, possui diversos processos parados na ANM. Alguns há mais de cinco anos, a exemplo dos processos 872759/2012 e o 872740/2012, que aguardam desde 2017 a vistoria de fiscalização para análise do relatório final de pesquisa. Tanto tempo para o andamento de um processo é inaceitável e gera muitos problemas para a economia do país e da Bahia, principalmente na geração de emprego e renda.  Mesmo após várias reuniões com a diretoria da ANM os problemas ainda não foram solucionados.

Quais os planos de expansão e investimentos para os próximos três anos?

De acordo com dados divulgados pelo Ibram em 2021, até 2025,  serão investidos mais de R$ 70 bilhões no estado, o que representa 35% do total de investimentos para o setor em todo o país. Várias empresas estão investindo em melhorias nos projetos já existentes, para o aumento da produção e também na implantação de novas áreas produtoras. Entre eles, podemos destacar os investimentos da Mineração Caraíba para o aprofundamento das minas, o da Yamana Gold, da Atlantic Nickel, que pretendem elevar as suas produções anuais. Ainda tem a da Bamin, com o seu projeto Pedra de Ferro, que ampliará a produção de minério de ferro no estado, nos colocando como o 3º produtor de minério de ferro do país.

Quais minérios são mais explorados na Bahia?

A Bahia possui uma grande diversidade mineral. Atualmente temos a produção de 43 tipos diferentes de minérios. Os minérios de cobre, ouro, níquel, ferro e cromo, por exemplo, foram os cinco maiores arrecadadores de imposto, como a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), em 2021. Mas somos também grandes produtores de água mineral e possuímos a segunda maior reserva de gemas do país. Muita gente não sabe, mas somos os maiores produtores de talco e os únicos de urânio do Brasil. Isso reforça a importância da mineração para a economia do estado.

Qual o impacto do setor no PIB baiano? E quantos empregos gera?

Dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) mostram que em 2020 a mineração representou quase 2% do PIB baiano. Mas acredito que um estudo mais completo, mais detalhado faria dobrar este índice.

A mineração na Bahia mantém mais de 16 mil empregos diretos, além dos indiretos. A estimativa é que para cada emprego direto, 11 indiretos sejam criados no setor, como mostram os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Atualmente, quais são os maiores produtores baianos?

Em 2021 foi a Mineração Caraíba, que produz cobre nos municípios de Juazeiro, Jaguarari e Curaçá. E também a Yamana Gold, que é produtora de ouro em Jacobina. Essas foram as empresas que registraram o maior recolhimento de CFEM do estado no ano passado.

Quais os impactos da pandemia no setor? Teme que outro eventual aumento dos casos possa afetar a produção?

Na ausência de números oficiais sobre a pandemia no setor podemos dizer que com os cuidados, precauções e decisões sanitárias, sem sombra de dúvida a mineração foi um dos setores mais bem cuidados e sem registro de óbitos nas operações.

Quais os desafios para quem quer empreender no setor? E qual o retorno?

A Bahia é o estado que mais tem cadastro geológico no país, o que possibilita que empresários possam ter informações mais detalhadas antes de planejar os seus investimentos. O retorno, além de participar do desenvolvimento do país é atuar em um setor que vem tendo nos últimos anos uma alta taxa de desenvolvimento e crescimento.

O que deve impactar o setor neste ano (eleições, alta da inflação, do dólar etc.)?

Nos últimos dois anos, a atividade mineral registrou grande índice de crescimento em função não só do incremento do preço dos minérios, como também pela política cambial do país com a manutenção do valor sempre elevado do dólar.

Publicado no BAdeValor