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Artigo

A curva de progresso da produção

Adary Oliveira

20/01/2023 06h05

Foto: Ilustrativa

A função de progresso da produção, muitas vezes definida como curva de aprendizagem, é um tema muito usado pela administração industrial quando se estuda a adaptação da mão-de-obra na realização de uma nova tarefa, seja para a fabricação de um novo produto ou para introdução de melhorias num processo de produção, medindo-se a evolução do volume conseguido ao longo do tempo.

O aumento da produtividade é obtido à medida que as máquinas e equipamentos são mais ajustadas e os operadores adquirem maior destreza na execução de suas tarefas, realizando-as com mais perfeição e em menor tempo. O aumento da produtividade além de ser alcançado por um operário devido à repetição de um serviço, por ter adquirido melhor prática, é também robustecido pelo progresso da organização, pelo resultado dos esforços de todas as pessoas envolvidas.

Os primeiros estudos sobre o assunto foram desenvolvidos pela indústria aeronáutica americana nas décadas de 1920 e 1930, quando se estabeleceu expressões matemáticas para cálculo da mão-de-obra aplicada relacionada com as quantidades produzidas. Após a Segunda Guerra Mundial estudos desenvolvidos na Universidade de Stanford conceberam a formulação de equações mais precisas com introdução de novos parâmetros. Posteriormente, houve maior avanço do assunto com melhor conceituação e aplicações fora da indústria aeronáutica. Estudos teóricos feitos na Universidade de Cornell sugeriram novos usos na manufatura de máquinas e equipamentos, resultado de pesquisas e da crença de que sempre é possível melhorar a produtividade dos processos industriais. O fato é que na administração da produção industrial o progresso da aprendizagem passou a ser um elemento de preocupação constante. A introdução de novas práticas, como uso ou não de novas tecnologias, mostra que não só é sempre possível aperfeiçoar os processos produtivos, como também motivar os operadores na busca da perfeição.

Vivenciei isso na minha passagem como executivo da planta de caprolactama do Polo Petroquímico de Camaçari quando promovemos uma simples troca de catalizador do reator que transformava ciclohexanol em ciclohexanona e aumentamos a capacidade nominal de produção de 35 mil t/ano para 57 mil t/ano. O mesmo aconteceu nos reatores que transformavam o MVC em PVC, por polimerização, na fábrica de PVC, quando a mudança de alguns reagentes químicos fez reduzir o tempo de cada batelada de 12 h para apenas 2,5 h.

Recentemente a fábrica de estireno, que operava com cerca de 1.000 pessoas passou a operar com apenas 50, além de ter duplicado a produção. Tudo isso é uma exigência da necessidade de se obter o aumento de produtividade, imperativo para enfrentamento da tarefa de melhor competir no mercado.

Embora o cenário seja diferente, no campo da administração pública, onde a alternância do poder é recomendável para que novos ares sejam portadores de melhorias, fico imaginando o tempo que vai ser perdido com a troca de pessoas que gerenciam as repartições. Até que os novos ocupantes de cargos nos ministérios e secretarias se ajustem e coloquem a máquina operacional das funções públicas plenamente em movimento, quanto tempo deve ser gasto a mais, e qual o custo dispendido adicionalmente na realização de tarefas pelos novos ocupantes dos cargos, muitas vezes estreantes. Isso acontece com maior frequência quando os funcionários não são de carreira e são ocupantes de funções temporárias, chamadas de cargos comissionados, cuja indicação obedece mais a critérios políticos do que a escolhas profissionais.

Até que toda a engrenagem se ajuste, até que se consiga superar toda a burocracia, até que os novos executores de funções novas adquiram habilidade na execução das tarefas, por repetição dos afazeres ou por assimilação de novos conhecimentos, gasta-se muito tempo. É o que certamente a sociedade vai assistir nos primeiros meses deste ano com as mudanças que vão ocorrer nas repartições, empresas estatais e outros órgãos da administração pública devido às mudanças que estão em curso. Nada que o tempo não se encarregue de resolver, mas sempre com perdas irreparáveis.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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