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Artigo

A previsão do futuro

Adary Oliveira

21/02/2022 06h03

Uma das coisas que mais fascina a humanidade é a previsão do futuro. No domínio das ciências exatas se consegue fazer previsões dos fenômenos com precisão, basta usar as regras conhecidas adequadamente. Na química, sabe-se que a reação de um ácido com uma substância alcalina resulta na formação de sal, substância bem diferente das que lhe deram origem. Na física, se for colocado um copo de água gelada sobre uma mesa, não é difícil imaginar que a água vai se esquentar aos poucos até atingir a temperatura do meio ambiente. Mas se o fenômeno é social, nem sempre é possível prever o que vai acontecer. Namoro nem sempre resulta em noivado. Noivado pode não dar em casamento. Casamento pode não durar muito, e assim sucessivamente.

Através de cálculos científicos a humanidade tem feito previsões que em muito auxilia as realizações, e elas são aperfeiçoadas a cada dia. A previsão do tempo é uma delas. As viagens espaciais, determinando a hora exata de chegada de um robô em Marte, é outra. O tempo de viagem de avião entre duas cidades, tem batido na previsão com certo grau de confiabilidade. Mas, apesar disso, não dispensamos ainda o uso do tarô, do jogo dos búzios e das recomendações religiosas. Os avanços da medicina, que ajudam a antever quando a saúde vai ser restabelecida, não têm dispensado o chá de quebra-pedra para doenças renais, nem o chá de erva-cidreira para um sono longo e reparador, tampouco o banho de folhas para fechamento do corpo. A reza com folhas de pinhão roxo e os preparados afrodisíacos de catuaba e pau-de-resposta continuam sendo ministrados e usados.

Vivemos sempre atormentados ao pensarmos no que vai acontecer. Será que a Rússia vai invadir a Ucrânia e os países da Otan vão reagir? O preço do petróleo e do gás natural vão continuar subindo e ameaçando nossas finanças? A inflação estará de volta ou vai ceder às manobras dos economistas? A vacina de imunização do covid-19 vai dar resultado ou vai ser necessário tomar algum medicamento adicional? A oferta do emprego vai aumentar ou teremos de conviver com o desemprego maior ainda? As escolas passarão a funcionar melhor obtendo melhores índices de educação, absenteísmo, repetência e analfabetismo? A saúde da população vai melhorar ou continuaremos a conviver com doenças, epidemias, pandemias e toda sorte de agouros? Será que os santos de hoje estão mais fracos no atendimento das preces ou as orações estão sendo malfeitas?

Tenho recorrido à matemática para fazer minhas previsões. Se disponho de uma série histórica de dados é sempre possível obter a equação que represente melhor os acontecimentos futuros. Antigamente fazia isso através da regressão linear e longos cálculos pelo método dos mínimos quadrados. Hoje, com auxílio do computador, posso fazer a regressão não apenas linear, mas da função desejada: linear, potencial (qualquer grau), exponencial (qualquer grau), logarítmica, trigonométrica, média móvel (com várias bases diferentes), contínua, discreta e outras tantas. Mais ainda, existe o coeficiente de correlação variando de 0 a 1, que mede a exatidão do cálculo, se a função obtida representa com perfeição, ou não, a série histórica de dados. O computador se encarrega de municiar instantaneamente e com precisão o valor desse coeficiente e a expressão analítica. Basta escolher a função que venha a proporcionar o coeficiente de correlação mais próximo de 1 e estamos de posse da equação que mostra matematicamente o que vai acontecer no futuro. Tudo isso, é claro, se não houver mudança das condições normais (temperatura, pressão etc.). De qualquer maneira não deixa de ser um avanço. Melhor do que não ter indicação nenhuma.

No campo da política as coisas não são bem assim. Existem as pesquisas eleitorais, o cálculo das tendências, a experiência dos mais velhos, o uso das redes sociais e a aplicação das notícias falsas. Todos esses elementos estão fora de controle, o que torna as previsões, por mais bem feitas que sejam, de resultados pouco confiáveis. Além disso existem as falsas pesquisas eleitorais, as traições, as mudanças nos acordos, as multipromessas e as declarações de última hora. Tudo isso termina por consagrar a expressão popular muito intensa em ano eleitoral como o que vivemos, que diz que tanto na eleição quanto na mineração, só se sabe do resultado após a apuração.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

Publicado no Bahia Econômica

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