06/07/2021 07h03
Foto: Divulgação
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, recebeu com uma “super surpresa” e até mesmo uma certa perplexidade a projeção de um superávit de US$ 105,3 bilhões para a balança comercial brasileira em 2021, anunciada na última quinta-feira (01), pelo Subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Herlon Brandão.
No início do ano, o Ministério previu um superávit de US$ 53 bilhões, número revisto para US$ 89,4 bilhões no mês de abril. Agora, três meses depois, a estimativa de saldo para a balança comercial veio com um novo salto e uma cifra ainda mais surpreendente. Em 2020, a balança comercial registrou um saldo de US$ 51,1 bilhões.
Ao analisar os dados divulgados na semana passada pelo governo, José Augusto de Castro afirmou que “quando eu vi esses números, eu me assustei muito. Foi uma super surpresa, porque um superávit de US$ 105,3 bilhões era inimaginável”.
O presidente da AEB coloca alguns pontos que, em sua opinião, põem em dúvida a possibilidade de se alcançar um superávit comercial dessa magnitude: “para atingirmos um superávit de US$ 105,3 bilhões, será preciso que nos próximos seis meses a balança comercial tenha na média mensal saldos de US$ 11,5 bilhões. No mês de junho tivemos um superávit de US$ 10,3 bilhões e foi um saldo recorde. Então, teremos que ter seis recordes consecutivos em todo o segundo semestre do ano para chegarmos ao número anunciado. É muita coisa. Além disso, neste momento já foram exportados 68% de toda a soja a ser embarcada e faltam 32% para se completar o total previsto. Os números do governo assustam e não sei se essa previsão virá a se concretizar”.
Apesar da surpresa com que recebeu as estimativas apresentadas pelo governo, o presidente da AEB fez a ressalva de que “o que pode viabilizar a projeção de um superávit tão elevado e tão assustador é que o petróleo está crescendo 53% em termos de preço e 100% em quantidade e o petróleo pesa na balança. Outro produto importante na pauta exportadora brasileira é o minério de ferro, que está crescendo pouco em termos de volume exportado, algo em torno de 12% a 13%, mas o preço está crescendo mais de 100%. Além disso, tradicionalmente, o segundo semestre de cada ano tem mais exportações que o primeiro, porque o primeiro semestre tem janeiro e fevereiro, dois meses em que os embarques caem por conta do Carnaval e a tendência é de alta nas vendas externas no segundo semestre”.
Mesmo com esses dados que podem levar à concretização das estimativas apresentadas por Herlon Brandão, o executivo da AEB lembra que “por outro lado, as importações também estão subindo e se o PIB brasileiro continuar crescendo conforme vem sendo divulgado, as importações também vão crescer. Então, indiretamente, esse fator pode impedir que se alcance esse superávit elevado porque se as importações crescem, o superávit naturalmente cai”.
Após reiterar que “estamos diante de um cenário difícil”, e que os números anunciados “assustam”, José Augusto de Castro afirma que “eles estão bancando esses números”, que ele considera elevados não apenas em relação ao superávit final mas também no tocante às cifras projetadas para as exportações: “para as exportações atingirem de fato US$ 307 bilhões, as vendas externas terão que avançar 46,7% em relação ao total embarcado em 2020. Se esses números vierem a ser confirmados, o Brasil dará um grande salto no ranking mundial dos exportadores, no qual o país ocupa hoje a 29ª. posição e ganharia entre cinco e oito posições caso as projeções se concretizem. Os números são desafiadores sob todos os aspectos e por enquanto não posso cravar nada. Dentro de duas ou três semanas a AEB divulgará a sua revisão para a balança comercial em 2021 e então teremos dados mais claros”.