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Logística

Armazenagem atende só 59% da safra no Brasil

Segundo levantamento, capacidade cresceu 8%, mas o gargalo é a distribuição

30/06/2025 14h51

Foto: Divulgação

A capacidade estática de armazenagem de grãos no Brasil cresceu 8,2% no ano passado e chegou a 203,1 milhões de toneladas em janeiro de 2025, segundo dados da pesquisa de estoques do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) consolidados pela consultoria Datagro. Ainda assim, o país enfrenta um déficit estrutural para estocar sua produção agrícola, que mais do que espaço, precisa de melhor distribuição.

A capacidade estimada cobre apenas 58,9% da produção total de cereais e oleaginosas do país no ciclo 2024/25, que segundo projeção da Datagro, é de 344,8 milhões de toneladas.

Mas Giovana Cavalca, analista da equipe de grãos da consultoria, afirma que o número geral não reflete a realidade do mercado de armazenagem, porque diferentemente de outros países, o Brasil tem duas safras. “Neste momento, muito da soja colhida já saiu dos silos e ainda não entrou a colheita de milho de inverno. Então, o volume que de fato precisará de armazenagem simultânea será menor que a produção total.”

Para ela, o problema da infraestrutura de armazenagem do país “não está no déficit em si, mas sim na localização dos silos”. Enquanto cooperativas e tradings costumam ter infraestrutura de estocagem, o que atenua o problema para esses agentes, os produtores rurais, especialmente os médios e pequenos, seguem enfrentando gargalos.

O caso mais emblemático continua sendo o Mato Grosso, maior produtor de grãos do país. O Estado detinha no início do ano 28% da capacidade nacional de armazenagem, com 58,6 milhões de toneladas, segundo a Datagro, 11,5% mais que no mesmo período de 2024.

Entretanto, considerando-se o ritmo de comercialização de soja até o início de junho e o ingresso de milho de inverno estimado para as próximas semanas, Mato Grosso deve ter um déficit de 3 milhões de toneladas — o dobro do observado no ano anterior, ainda que bem inferior ao pico crítico de 16,9 milhões de toneladas de déficit registrado em 2023.

“Mato Grosso produz mais soja e milho do que a Argentina inteira. O avanço das lavouras segue testando a capacidade instalada, e a sobreposição entre embarques finais de soja e a entrada do milho pressiona todo o sistema”, afirma Cavalca.

Outros Estados também enfrentam dificuldades, como Goiás e os que compõem a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). No Sul, a situação é mais confortável, com presença maior de cooperativas e infraestrutura mais bem distribuída — o que dilui a pressão sobre o armazenamento na região.

Ainda que a capacidade nacional esteja abaixo da recomendação da Agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) — que orienta uma cobertura de 120% da produção para garantir segurança alimentar —, Cavalca pondera que esse número não se aplica diretamente ao Brasil por conta da sazonalidade das safras.

“Talvez 70% de capacidade seria suficiente aqui, já que temos colheitas escalonadas e exportamos muito. A dinâmica é completamente diferente da de outros países", pondera a analista.

A analista chama atenção para a falta de crédito específico para armazenagem, um gargalo que se mantém mesmo com planos de expansão. “Os incentivos econômicos estão mais voltados à produção — como sementes e tecnologias — do que à infraestrutura. E armazenagem é cara, exige investimentos estruturais e retorno de longo prazo”, diz.

Ela observa que investimentos em logística, como ferrovias e portos, também continuam aquém da necessidade, e que a armazenagem ainda não ocupa posição de destaque no financiamento agrícola. “Como a demanda por armazenagem é escalonada, o uso das estruturas não é contínuo ao longo do ano, o que dificulta o financiamento e a viabilidade dos projetos.”

Além disso, a maior parte das análises considera apenas estruturas sólidas, como silos fixos. Soluções temporárias, como os silos bolsa, não entram no cálculo da capacidade estática — e deveriam, defende Cavalca, pois permitem uma alocação dos grãos de forma ou de outra.

Fonte: Globo Rural