24/05/2023 06h04
Foto: Ilustrativa
Finalmente, por obra e graça da iniciativa privada, novos horizontes começam a se abrir para a economia baiana e – muito relevante – trazem grande potencial transformador, especialmente em relação ao sofrido semiárido. São os sinais dos novos tempos, dedicados à transição energética, que aqui toma a forma de biomassa.
Em uma iniciativa pioneira, a Shell Brasil e o Senai Cimatec lançaram, em Conceição do Coité, no coração da região sisaleira da Bahia, a nova fase do programa Brave – Brazilian Agave Development, que quer transformar o nosso sisal na “cana de açúcar do sertão”.
A primeira etapa, que teve início na Unicamp com o estudo das mudas ideais para o Sertão, avança agora em duas novas frentes: desenvolver soluções de mecanização para o plantio e a colheita do agave, e estudar tecnologias de processamento. O foco é a produção de biocombustíveis.
O Cimatec foi chamado para desenvolver a tecnologia das máquinas de plantio e colheita, indispensáveis para permitir escala industrial em uma lavoura cujo cultivo é, ainda hoje, totalmente manual. Este é o primeiro grande projeto do Cimatec Sertão, iniciativa do Senai que implanta mais um campus deste que é um dos maiores centros tecnológicos do país.
Isto mexe não apenas com a economia baiana, mas com o futuro do automóvel no Brasil, onde o carro elétrico europeu não é a alternativa mais apropriada, o que tem levado as montadoras daqui optarem pelos modelos híbridos.
Por sua vez a Acelen, que detém a Refinaria de Mataripe – maior unidade industrial do estado – também anunciou investimentos em biorrefino, da ordem de R$ 12 bilhões, a partir da infraestrutura existente na refinaria, para produzir diesel renovável e combustível sustentável de aviação (SAF). A produção será inicialmente exportada, até que o Brasil conte com políticas de incentivo para a produção e consumo de combustíveis renováveis.
Com capacidade total de 20 mil barris/dia, ou 1 bilhão de litros por ano, o projeto começa utilizando óleo de soja para, em seguida, substituí-lo pelo de macaúba – árvore nativa ainda sem exploração comercial – e de dendê, com início de plantio a partir de 2025 e previsão de 200 mil hectares, priorizando terras degradadas, além da construção de uma unidade de hidrogênio sustentável.
A privatização de Mataripe está fazendo bem à economia baiana, mesmo que os seus preços ao mercado ainda reflitam a dominação monopolista da Petrobras.
Se esses dois projetos têm forte efeito positivo no Semiárido, uma terceira iniciativa o fará no Oeste baiano, com a Impacto Bioenergia implantando a primeira unidade de biorrefino de milho do Brasil, em Luís Eduardo Magalhães.
Com capacidade para moer 600 mil toneladas de milho por ano, para produzir 258 milhões de litros de etanol, além de outros coprodutos, a unidade entrará em operação no primeiro trimestre de 2025. Uma segunda unidade está prevista para Rosário, em Correntina.
Para Ilhéus, valendo-se do Porto Sul e da expectativa da integração Fico-Fiol, a Noxis Energy anunciou um investimento da ordem de R$ 5,3 bilhões para instalar uma refinaria de ao menos 100 mil barris/dia, na qual também acena com uma produção associada de metanol e ao biorrefino de óleo de soja, para produção de bioquerosene de aviação.
Contribui para esta nova onda dos biocombustíveis na Bahia a farta existência de energias limpas – eólica e solar – que este conjunto de projetos ajudará a consumir aqui, evitando que seja transportado para outras regiões, como quer o Ministério das Minas e Energia, que se apressa em licitar linhões de transmissão e induzir a produção de energia offshore, de custo bem mais elevado, vis-à-vis o potencial da produção em terra, no que a Bahia conta com imensas vantagens competitivas.
Estas iniciativas – que abrem o ciclo dos biocombustíveis – vêm no caminho de consumir aqui mesmo a energia gerada, criando oportunidades de trabalho e renda para a população baiana, agora com destaque para os habitantes do Sertão.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional, é autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.
Publicado em Correio24horas
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