Utilizamos cookies de terceiros para fins analíticos e para lhe mostrar publicidade personalizada com base num perfil elaborado a partir dos seus hábitos de navegação. Pode obter mais informação e configurar suas preferências AQUI.

Gestão Pública

Brasil não tem vacina suficiente para imunizar pessoas da 1ª fase

A quantia de 10,8 milhões de doses imuniza apenas 5,4 milhões de brasileiros, o equivalente a cerca de 2,5% da população do país

21/01/2021 13h15

Foto: Divulgação

Apesar da aprovação e do início da distribuição da CoronaVac em todo o país, ainda não há doses o suficiente para imunizar toda a população-alvo da primeira fase da vacinação. Levantamento do UOL aponta ao menos 14,8 milhões de brasileiros no grupo prioritário, enquanto, no presente momento, há apenas 10,8 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 em território nacional. Como a imunização de uma única pessoa é garantida somente após duas doses, são necessários 29,6 milhões de doses nesta etapa.

Os 10,8 milhões de vacinas do país correspondem a 6 milhões de doses distribuídas entre os estados somadas aos 4,8 milhões já produzidos e que aguardam aprovação para uso emergencial por parte da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A quantia imuniza apenas 5,4 milhões de brasileiros, o equivalente a cerca de 2,5% da população do país.

Procurado pelo UOL, o Instituto Butantan afirmou que o acordo com a Sinovac garante a entrega de insumos suficientes para a produção de 46 milhões de doses no total.

Os materiais necessários para a produção da vacina vêm da China e, até a tarde de terça-feira (19), o instituto declarou que ainda não havia previsão de quando seria entregue o próximo lote.

Diretor do Butantan, Dimas Covas disse que a instituição aguarda a liberação de insumos pelo governo chinês há 15 dias. O instituto alegou estar dentro do cronograma de entrega de ao menos 8,7 milhões de doses até o fim de janeiro.

A primeira fase do plano de vacinação tem por alvo: Profissionais de saúde; idosos com 75 anos ou mais; pessoas acima de 60 anos que vivem em casas de repouso e asilos; população indígena aldeada em terras demarcadas; povos e comunidades tradicionais ribeirinhas.

Quantidade de doses preocupa especialistas

Especialistas ouvidos pelo UOL afirmaram que a quantidade disponível de doses é preocupante e alertaram para a dependência de importação dos insumos tanto para a produção da CoronaVac quanto para a vacina da AstraZeneca.

A sanitarista Bernadete Perez Coelho, vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), chamou a quantidade de doses disponíveis de "uma gota no oceano".

O secretário da Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, declarou na terça que não há vacina para todos os grupos prioritários. Por isso, salientou que, mesmo entre trabalhadores de saúde, haverá priorização de profissionais, levando em conta quem está na linha de frente contra a Covid-19.

Já o médico Juarez Cunha, presidente da SBim (Sociedade Brasileira de Imunizações), afirmou que, mesmo não sendo o ideal, a opção de priorizar determinados grupos dentro de uma população-alvo é a única possível no atual cenário. Mas alertou para a demora que isso pode desencadear no calendário de imunização.

Transferência de tecnologia

Os acordos de produção da CoronaVac e da AstraZeneca incluem a possibilidade de transferência de tecnologia para o Brasil —ou seja, para que todas as etapas de produção sejam realizadas no país. Isso eliminaria a dependência pelo envio de insumos, atual entrave enfrentado pelas autoridades para ampliar a vacinação.

O epidemiologista e professor da USP (Universidade de São Paulo) Paulo Lotufo disse que, mesmo com a transferência de tecnologia, o processo para a produção 100% em solo brasileiro pode demorar a ocorrer.

"Tem muito a questão do controle de qualidade, como está sendo produzida a vacina, e vai desde a questão inicial até a própria embalagem. Então não é assim de uma hora para a outra que se consegue fazer o medicamento", acrescentou.

Cunha concorda e disse não ver no primeiro semestre de 2021 a possibilidade de transferência de tecnologia.

"O contrato de transferência de tecnologia já existe. Provavelmente nesses contratos devem ter estipulado o momento que isso vai acontecer da autonomia. Não sei dizer se isso tem uma data definida, até porque temos vacina que demoramos cinco, dez anos, para adquirir expertise e qualidade para produzir em capacidade igual ou superior à dos locais de origem", declarou.

Pandemia não chegou ao fim

Bernadete Coelho observou que, apesar de a imunização ser uma boa notícia, a vacina não é "resposta única à pandemia". A sanitarista mencionou a necessidade de manter medidas de proteção social, como uso de máscaras e distanciamento.

Reportagem recente do UOL reuniu relatos de especialistas apontando infecções mais graves e com maior velocidade de propagação do que na primeira onda de Covid-19 no Amazonas.

Fonte: UOL