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Economia

Copom eleva juros básicos da economia pela 1ª. vez em seis anos

Taxa Selic passou de 2% para 2,75% ao ano e surpreendeu analistas

18/03/2021 07h31

Foto: Agência Brasil

Em meio ao aumento da inflação de alimentos que começa a estender-se por outros setores, o Banco Central (BC) subiu os juros básicos da economia pela primeira vez em quase seis anos. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic de 2% para 2,75% ao ano. A decisão surpreendeu os analistas financeiros, que esperavam uma elevação para 2,5% ao ano.

Com a decisão da quarta-feira (17), a Selic subiu pela primeira vez desde julho de 2015, quando tinha sido elevada de 13,75% para 14,25% ao ano. A taxa permaneceu nesse nível até outubro de 2016, quanto o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia de covid-19. Esse foi o menor nível da série histórica iniciada em 1986.

Inflação

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em fevereiro, o indicador fechou em 5,2% no acumulado de 12 meses, pressionada pelo dólar e pela alta nos preços de alimentos e de combustíveis.

O valor está próximo do teto da meta de inflação. Para 2021, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tinha fixado meta de inflação de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não podia superar 5,25% neste ano nem ficar abaixo de 2,25%.

No Relatório de Inflação divulgado no fim de dezembro pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que, em 2021, o IPCA fecharia o ano em 3,4% no cenário base. Esse cenário considera uma eventual alta da inflação no primeiro semestre, seguida de queda no segundo semestre.

A projeção não está mais em linha com as previsões do mercado. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,6%. No fim de março, o Banco Central atualizará a projeção oficial no próximo Relatório de Inflação

Crédito mais caro

A elevação da taxa Selic ajuda a controlar a inflação. Isso porque juros maiores encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais altas dificultam a recuperação da economia. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava crescimento de 3,8% para a economia em 2021. A projeção pode ser revisada nos próximos relatórios, que saem no fim de cada trimestre.

O mercado projeta crescimento menor. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem contração de 3,23% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) neste ano.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.

Em comunicado, o Banco Central informou que o reajuste da Selic reduz a probabilidade de não cumprimento da meta de inflação deste ano e ajuda a manter as expectativas para horizontes mais longos. Segundo o Copom, a estratégia é compatível com o cumprimento da meta em 2022, mesmo em um cenário de aumento temporário do isolamento social.

O BC adiantou que pretende elevar os juros em mais 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom, em 4 e 5 de maio. “Para a próxima reunião, a menos de uma mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude”, ressaltou o texto.

Entidades divergem

A primeira elevação da taxa Selic (juros básicos da economia) em quase seis anos dividiu o setor produtivo. A indústria considerou precipitada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de reajustar a Selic de 2% para 2,75% ao ano. Entidades ligadas ao comércio, no entanto, elogiaram o reajuste, citando a necessidade de conter a alta do dólar.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a decisão de apressada. Segundo a entidade, o recrudescimento da pandemia de covid-19 reduzirá o crescimento da demanda neste ano, diminuindo o ritmo de elevação nos preços de bens e de serviços. Para o setor industrial, seria mais prudente esperar para avaliar o comportamento da inflação nos próximos meses, em vez de elevar os juros básicos e encarecer o crédito num momento em que empresas e consumidores tendem a se endividar.

“Consideramos que a decisão de aumento da taxa Selic deveria ter sido postergada até que os efeitos das medidas de isolamento sobre a demanda e, consequentemente, sobre a trajetória da inflação pudessem ser avaliados”, afirmou em comunicado, o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Em nota, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) destacou que o aumento nos juros serve como um recado para o governo promover ajustes fiscais urgentes. Para a entidade, o BC acertou ao elevar os juros, por causa da necessidade de conter a inflação, mesmo com a atividade econômica ainda muito fraca.

Segundo a ACSP, o agravamento da pandemia e das medidas restritivas deve enfraquecer ainda mais o consumo das famílias. No entanto, a autoridade monetária precisa restabelecer a confiança de que o impacto da alta do dólar sobre os preços é temporário.

“Podemos entender que o comitê quis mandar uma mensagem ao Congresso e ao Executivo sobre a necessidade e urgência de medidas de ajuste fiscal mais efetivas. Apenas com o restabelecimento da confiança na área fiscal será possível reverter a desvalorização cambial que se constitui em um dos responsáveis pela elevação dos preços. Esperamos que essa sinalização atinja seus objetivos, permitindo que as altas da Selic possam ser interrompidas ou, pelo menos, moderadas nas próximas reuniões”, diz Marcel Solimeo, economista da ACSP.

Fonte: Agência Brasil