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Artigo

Cresce a oferta de gás natural

Adary Oliveira

24/02/2023 06h00

Foto: Divulgação 

Embora os combustíveis de origem fóssil estejam sendo combatidos pelos ambientalistas, por estarem sendo responsabilizados pelo aquecimento global ou mesmo por ameaçarem a vida no planeta Terra, com emissão de gás carbônico, eles continuam soberanos como a fonte de geração de calor e eletricidade e intensamente usados na indústria como matéria-prima.

Recentemente o Secretário Geral da ONU disparou duras críticas às empresas produtoras de petróleo e gás natural em Davos, apesar de ter feito deslocamento para aquela cidade em avião que queimava querosene e trasladando-se do aeroporto para o local da reunião em automóvel provavelmente movido a gasolina. Dos combustíveis de origem fóssil atualmente em uso o gás natural é o mais limpo deles, principalmente quando comparado com o petróleo e derivados e o carvão, mineral ou vegetal.

Aqui na Bahia o gás natural (GN) está sendo vendido na indústria por valor próximo de US$ 20,00/Milhões de BTU (MMBTU), enquanto o preço de referência norte-americano Henry Hub beira os US$3,00/MMBTU. Para se ter uma ideia dos desequilíbrios por que passa o mercado o gás natural em estado gasoso, é que estamos comprando o da Bolívia com preço em Santa Cruz de La Sierra de US$6,78/MMBTU em dezembro último. Também em dezembro, o gás natural liquefeito (GNL) que importamos dos Estados Unidos foi faturado por US$16,34/MMBTU (FOB), já tendo custado US$75,28/MMBTU em setembro, nas mesmas condições. Os principais fornecedores de GN na nossa região são a Petrobras, que comercializa o GN de produção do Campo de Manati, e a Shell, que o traz do Pré-sal da Bacia de Santos. A Bahiagás compra gás dos produtores locais e os revende aos consumidores. Dentre os produtores locais a 3R Petroleum e a PetroRecôncavo, que começam a produzir mais petróleo e GN, estão ampliando suas vendas. O aumento da produção local de GN fará o preço declinar, especialmente por não ter o custo do transporte.

A oferta do GN boliviano está sendo reduzida e poderá diminuir mais ainda no futuro próximo se a empresa estatal YPFB não realizar novos investimentos para aumentar a produção. Atualmente o Brasil está importando daquele país cerca de 16 milhões de m3/dia. O GNL regaseificado importado aproxima-se de uma média de 6 milhões de m3/dia e o total de GN importado beira os 20 milhões de m3/dia. A maior produção de GN no Brasil é do Pré-sal, atingindo aproximadamente 100 milhões de m3/dia, representando o equivalente a 75% da produção nacional. A Petrobras está reinjetando o volume de 70 milhões de m3/dia desse GN, o que é uma pena. Ele está contaminado com gás carbônico e só uma parte dele é descontaminado. O GN do Pré-sal representa uma esperança de abastecimento do GN para todo o Brasil. Ele pode ser transportado por dutos que ligam Porto Alegre a Fortaleza e vai de São Paulo até a Bolívia.

Uma outra possibilidade de abastecimento do GN é o aproveitamento do shale gás de Vaca Muerta da Patagônia argentina, a segunda maior reserva de GN não associado do planeta, com instalações para produzir 130 milhões de m3/dia.

Está sendo construído o gasoduto Nestor Kirchner de 573 km de extensão que levará este gás para Buenos Aires, devendo ser concluído em junho deste ano, a tempo de atender a capital Argentina durante o inverno. Numa primeira etapa serão transportados 10 milhões de m3/dia de GN. O governo argentino está negociando com o BNDES o financiamento da segunda etapa do projeto e pleiteia ao governo brasileiro a construção de gasoduto de Uruguaiana a Porto Alegre, de 600 km, que permitiria a exportação desse GN para o Brasil. Tal projeto é muito importante, principalmente por promover a integração de países da América do Sul, além de reduzir o déficit comercial que a Argentina tem para com o Brasil. Ademais, será uma importante abastecedora da malha de gasodutos que tem o Brasil.

Afora o abastecimento industrial, inclusive de pequenos negócios como padarias, fabricantes de massas e biscoitos, vidrarias, cerâmicas, chegaria a vez do abastecimento domiciliar e automotivo com maior disponibilidade e mais barato que o sistema atual. Sem dúvida, o crescimento da oferta de GN nos trará benefícios do ponto de vista econômico e de proteção ambiental.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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