13/02/2021 10h16
Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
A diferença da inflação entre os mais pobres e mais ricos – que disparou em 2020 em função da alta de preços de alimentos e a desaceleração de serviços – deve se reduzir este ano, após ter disparado em 2020. A avaliação é da pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Maria Andreia Lameiras, responsável pelo indicador “Inflação por faixa de renda.
A inflação para os dois extremos de renda era próxima em 2019, mas disparou no ano passado em função do comportamento dos preços de alimentos – que mais pesam sobre os mais pobres – e de serviços – que pressionam os mais ricos.
No ano passado, os preços de alimentos dispararam, diante da maior demanda em função da pandemia – tanto no mundo, que pressionou os preços de commodities, quanto no Brasil, em função do auxílio emergencial. Por outro lado, o isolamento social afetou os serviços – como viagens e restaurantes, por exemplo -, com maior peso no orçamento dos mais ricos.
Em 2020, a inflação da faixa de renda muito baixa, que abrange famílias com renda mensal domiciliar inferior a R$ 900,00, ficou em 6,2%. Já a taxa de inflação em famílias com renda alta, acima de R$ 9.000,00 mensais, ficou em 2,7%. Em 2020, essas taxas eram muito próximas: 4,4% para a renda muito baixa e 4,2% para a renda alta.
A redução dessa diferença será puxada, por um lado, pela desaceleração da alta de alimentos e, por outro, por ritmo maior em serviços.
“A alta dos alimentos já desacelerou em janeiro e a previsão é que esse movimento continue em fevereiro e ganhe força a partir de abril. Temos uma previsão de safra boa, a oferta já vai estar mais equilibrada e a demanda controlada. Mesmo que o auxílio emergencial volte, o que de alguma forma pressiona os preços de alimentos, será por menos tempo e por um valor menor”, explica a pesquisadora.
A previsão atual do Ipea é que os preços de alimentos avancem 3% em 2021, após expansão de 14,09% em 2020, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Já os preços de serviços tendem a voltar a subir mais para a frente, com o avanço da vacinação e a flexibilização das medidas de isolamento social. Ainda assim, esta alta terá “algumas travas”, como afirma Maria Andreia. “Os preços de aluguéis caíram. Então, mesmo quando a demanda melhorar um pouco para o setor de serviços, o custo do setor não estará tão pressionado. Além disso, o mercado de trabalho continuará muito ruim”, diz.
A desaceleração na alta de alimentos já foi percebida em janeiro, embora o maior impacto para a inflação da baixa renda em janeiro tenha sido a energia elétrica mais barata. Na passagem de dezembro para janeiro, a inflação para a faixa de renda muito baixa desacelerou de 1,58% para 0,21%. Considerando a mesma base de comparação, diminuiu de 1,05% para 0,29% a taxa de inflação em famílias com renda alta.
"A queda do preço de energia trouxe um alívio importante para as famílias mais pobres em janeiro, que inclusive compensou o impacto dos alimentos. A alta de preços de alimentos já desacelerou, mas por enquanto continua forte", afirma Maria Andreia.
Fonte: G1