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Artigo

ESG, lucros sustentáveis e capitalismo consciente

Ricardo Costa Oliveira

16/03/2022 06h09

Foto: Ilustrativa

Os valores ligados ao novo padrão de conduta exigido pelo mercado, com foco na sustentabilidade, governança e meio ambiente incentivam a criatividade na construção de mais sinergias societárias e sociais. A prioridade do lucro será sempre finalidade empresarial, mas o cuidado com valores econômicos de longo prazo proporciona aos agentes privados mostrarem à sociedade o quão maior é a importância do investimento na oferta do que na demanda agregada, principalmente em períodos eleitorais.

Ao contrário do quanto proposto pela escola econômica neoclássica, o homem médio tem a predisposição de criar atalhos comportamentais para a tomada de decisões estratégicas, influenciados por vieses que tendem a limitar a racionalidade e priorizar o retorno de investimentos a mais curto prazo, em detrimento da confiança e da maturidade que um produto ou serviço necessita para gerar melhores ganhos econômicos e sociais.

Independentemente da estratégia de marketing e venda de qualquer empresa, o investidor deve ter em mente que a reputação, como vantagem competitiva da marca no longo prazo, será mais reconhecida pela sociedade como experiência de valor agregado, se disponibilizando o cliente a pagar mais pelos benefícios ofertados.

O timing ideal à tomada de decisões racionais para a geração de valor aos acionistas é a variável que mais desafia as pessoas e as empresas, num ambiente tão volátil quanto o que vivemos. Por isso, a mudança de cultura que o novo padrão ESG propõe é algo a ser construído com muito debate, eis que o tempo necessário para a geração de valores sustentáveis em perpetuidade necessita de maior amadurecimento nas perspectivas da economia de mercado, evitando a superficialidade das discussões e soluções propostas, e ocupando um espaço estratégico, antes de responsabilidade da gigante ineficiência do poder público.

Do ponto de vista da governança, os atalhos e vieses decisórios devem ser menos imediatistas, sempre que possível, respeitando as matrizes de competências técnicas, focando em estratégias gerencias mais informadas, imparciais e procedimentalmente eficientes do ponto de vista organizacional.

A prestação de contas nunca foi tão importante na conquista da confiança, como elemento essencial para azeitar as relações negociais. Seja do ponto de vista público ou privado, compreender e corresponder as expectativas de agentes envolvidos comercialmente torna o mercado mais eficiente e produtivo, diminuindo os custos sociais e de transações.

Embora o mercado esteja se comportando de maneira bastante complexa e ambígua, as novas estratégias gerenciais precisam levar em consideração o foco no ser humano como um dos seus principais valores, pois investir nas pessoas é uma das únicas formas de equilibrar a modelagem tecnológica que nos desafia a compreender novas realidades frágeis, virtuais e paralelas.

Falando em comportamento e gestão de pessoas, os valores ligados aos recursos humanos devem focar na inclusão de minorias excluídas como força de trabalho das empresas, bem como priorizar o investimento na contratação de mão de obra local, criando valor social com a formação de melhores e mais capacitados profissionais na comunidade.

Por último, para não tornar demasiadamente longa esta reflexão, o meio ambiente deve ser preservado a fim de manter as matrizes de insumos naturais mais disponíveis a longo prazo, evitando a deterioração das cadeias de suprimentos das corporações, evitando choques de ofertas, melhorando a qualidade de vida de todos e proporcionando o tão almejado desenvolvimento sustentável para as próximas gerações.

Todos esses elementos devem ser respeitados perante o novo padrão de mercado exigido, tendo os agentes econômicos, como nós, gestores comerciais de produtos e serviços, a responsabilidade de construir um ambiente de negociação intrinsicamente conectado ao valor social agregado, e não somente ao financeiro de curto prazo.

Em tempos de pandemia e eleições, devemos ficar atentos às propostas de endividamento a qualquer custo, bem como na oferta de dinheiro fácil, conscientizando as pessoas que o populismo originador da demanda agregada deste tipo de momento pode ser mais uma falha na construção de uma sociedade melhor e com maior equilíbrio comportamental, na contramão de um capitalismo mais consciente.

Ricardo Costa Oliveira é advogado atuante no direito societário e mercado de capitais. Mestre em direito dos negócios pela Universidade da Califórnia – Berkeley; Mestre em direito comercial pela FGV-SP; Especialista em gestão de ativos pela Universidade de Stanford; L.LM e MBA em finanças corporativas pelo Insper-SP.

Publicado no Bahia.Ba

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