17/04/2023 06h08
Foto: Tânia Rêgo - Agência Brasil
A divulgação, pelo IBGE, dos dados preliminares, ainda que provisórios, do Censo de 2022, já permite fazer algumas primeiras considerações a respeito da realidade atual da Região Metropolitana de Salvador, uma vez que até agora vinha-se trabalhando com projeções que tinham por base os resultados de 2010.
E o que o novo Censo nos diz sobre a RMS? Os números agora divulgados permitem ver claramente uma ampla modificação do cenário, o desperdício de oportunidades, a abertura de novas possibilidades, a falta que faz o planejamento metropolitano e as políticas públicas a que deveria dar lugar.
Confrontados os números de 2010 e 2022, Candeias teve redução absoluta de 6.132 habitantes (!); Dias D’Ávila cresceu apenas 2.771 habitantes (a projeção para 2021, do próprio IBGE, esperava crescimento de 14.494); Simões Filho cresceu somente 7,7%, com frustração de 10.027 novos habitantes, conforme a estimativa. Estes números do cinturão industrial de Salvador refletem o abandono da política de industrialização do Estado.
É verdade que Camaçari – sede do principal parque industrial – foi o município de maior crescimento demográfico na RMS (37,5%), mas isto é fruto de um outro processo: junto com Lauro de Freitas (34,9%), são os municípios onde está ocorrendo conurbação urbana – fenômeno em que as cidades vão se unindo umas com as outras em consequência de sua expansão geográfica. É o que se observa, no eixo do litoral, pelo menos até Abrantes, onde a praça de pedágio da BA-099 contém, temporariamente, a expansão física de Salvador. Não sem razão, São Cristóvão, Lauro de Freitas e Abrantes concentram os projetos do Minha Casa Minha Vida e são a principal área de atuação das empresas imobiliárias que têm foco neste segmento.
Ademais, Camaçari também se beneficia do processo de metropolização turística – que se dá na Costa de Camaçari e não na sede municipal – processo em que a joia da coroa é a Praia do Forte, no município de Mata de São João (21,2% de crescimento), fruto de um projeto virtuoso que terminou por atrair quatro grandes complexos hoteleiros e deflagrar vigoroso processo imobiliário.
Confirmando tendência anterior, os municípios da Ilha – Itaparica (menos 987 habitantes) e Vera Cruz (8,9%) – apresentaram pífio desempenho, fruto do processo de estagnação e deterioração urbana em que mergulharam por conta de uma sucessão de equívocos que incluem a fragmentação administrativa da Ilha, o abandono da vocação turística, a falta de planejamento adequado, resultando em um processo de favelização que a eventual ponte Salvador-Itaparica passa longe de resolver.
Pojuca (0,0%) e São Sebastião do Passé (menos 1.177 habitantes) – que nunca foram efetivamente municípios metropolitanos (ingressados em 2008 e 2009) – podem reencontrar perspectivas de desenvolvimento na exploração dos campos maduros de óleo e gás por produtores independentes, nesta fase pós-Petrobras, do que também se beneficia Mata de São João. São Francisco do Conde (14,2%) e Madre de Deus (8,0%) têm no petróleo a base de sua economia, que se revigora com a privatização de Mataripe. Não obstante, todos esses municípios precisam realizar esforços de complementaridade, diversificação econômica e articulação metropolitana.
Já Salvador (menos 64.669 habitantes) antecipou a tendência de estabilização e decréscimo populacional, revertendo um processo de expansão acelerada que perdurou por várias décadas, abrindo agora espaço para políticas de requalificação urbana, atendimento às carências sociais, fortalecimento econômico, superação dos desequilíbrios e a busca do desenvolvimento sustentável. Aliás, o crescimento espraiado da capital esgota, mas não satura a capacidade do seu território.
Este cenário aponta para a imperiosa e urgente necessidade de um programa estratégico capaz de configurar um novo ciclo para o desenvolvimento metropolitano.
Waldeck Ornélas - especialista em planejamento urbano-regional, é autor de “Cidades e Municípios: Gestão e Planejamento”.
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