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Artigo

O que acontece de novo no Nordeste

Adary Oliveira

30/12/2022 06h08

Foto: Divulgação 

As boas novas continuam acontecendo e não são poucas. Elas são noticiadas, mas às vezes não aparecem com destaque, sendo difícil de serem encontradas no meio de outras que nos desagradam e nos deixam tristes. Aproveito para ressaltar duas delas pelo valor econômico e pelo potencial de promoção do desenvolvimento que carregam. A primeira, é para comemorar os 81 anos da descoberta do primeiro poço comercial de petróleo ocorrida no dia 14 de dezembro de 1941 em Candeias, município localizado na Bacia do Recôncavo.

A segunda, também revestida de grande importância, é a decisão da Shell (Royal Dutch Shell) empresa multinacional petrolífera anglo-holandesa, uma das chamadas sete irmãs na exploração de petróleo e gás natural, ter decidido aplicar recursos na pesquisa voltada para melhor aproveitamento do sisal.

Em relação ao petróleo, a quebra do monopólio estatal em decorrência da promulgação da Lei nº 9.478 de 06/08/1997 (Lei do Petróleo), permitindo a entrada de empresas privadas no setor, veio carregada de esperanças para o Nordeste e para o Brasil. No Nordeste cerca de duas dezenas de empresas de pequeno e médio porte já atuam na exploração de petróleo e gás natural, principalmente no Rio Grande do Norte e na Bahia.

Nestes estados se destacam a 3R Petroleum, que opera o poço pioneiro de Candeias, e a PetroRecôncavo, que adquiriram instalações da Petrobras. No Refino, já estão operando oito empresas privadas no Brasil, lideradas pela Acelen com a Refinaria Mataripe e o Temadre.

O uso de novas tecnologias na exploração dos campos maduros de petróleo tem permitido o aumento de produção fazendo com que as novas petrolíferas se fortaleçam e façam crescer os royalties arrecadados pelos estados, municípios e proprietários de terra. Alguns municípios, como Mata de São João, na Bahia, já auferem receita de royalties maior do que a parcela que recebem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Os empregos gerados e a contratação de fornecedores de bens e serviços têm influenciado positivamente a economia regional. O gás natural é transportado em dutos ou liquefeitos em unidades de pequena escala. Ele é adquirido por empresas grandes consumidoras, companhias distribuidoras estaduais e termoelétricas, movimentando-se de modo crescente, tudo apontando para o engrandecimento da economia nordestina.

Quanto à pesquisa do uso do sisal (agave sisalana) anunciada pela Shell, demonstra não só o desejo dessa multinacional do petróleo em colaborar com o desenvolvimento do Nordeste, como também reconhecer a oportunidade oferecida por essa planta, cultivada principalmente na Paraíba e na Bahia, nas extensas e desafiadoras terras do semiárido.

O sisal é classificado como uma planta xerófila que suporta secas prolongadas e temperaturas elevadas. Ele é colhido durante todo o ano e suporta a aridez dos solos e é a fibra natural mais dura que existe. Grosso modo o sisal é composto de aproximadamente 5% de fibras, 15% de mucilagem e 80% de suco. Atualmente o aproveitamento econômico do sisal se restringe à transformação industrial de suas fibras em cordas diversas, inclusive navais; fios torcidos, terminais e cordéis; tapetes decorativos; estofos; insumos de artesanato; pasta para indústria de celulose; sacarias; e placas de poliuretano.

O sisal poderia avançar com o aproveitamento do suco e da mucilagem em diversas aplicações. A mucilagem pode ser utilizada na alimentação animal in natura, fenada ou silada. O suco é rico em ecogenina, fármaco de onde se extrai corticosteroides. Também, pode ser utilizado como bioinseticida, no controle de lagartas, de nematóides e carrapatos, como sabonete e pasta cicatrizante. Existe ainda um tipo de sisal, conhecido como agave tequileiro, bastante usado no México para fabricação de tequila e etanol.

As usinas poderiam ser multiplicadas em pequenas instalações e produzir tequila de modo semelhante à da produção da nossa tradicional cachaça, que usa alambiques pequenos. É imprescindível que sejam projetadas máquinas modernas de desfibramento instaladas em plantas industriais onde se extrairiam fibras, mucilagem e suco, ao invés de se levar as portáteis máquinas de desfibramento para os campos. Enfim, através da pesquisa se pode encontrar solução para melhor aproveitamento das terras do semiárido, de modo semelhante ao tratamento que se deu aos outrora improdutivos cerrados.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

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