18/03/2022 16h25
Foto: Jefferson Peixoto - Secom - PMS
O Sindicato dos Rodoviários da Região Metropolitana de Salvador (Sindmetro) informou que os ônibus metropolitanos voltaram a circular normalmente nesta sexta-feira (18) após a paralisação de 24 horas realizada na quinta-feira (17). Mas, o sindicato afirma que, se as demandas não forem atendidas pela Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), que representa o governo do estado, haverá greve por tempo indeterminado. O prazo máximo para uma resposta é a próxima terça (22).
“Os trabalhadores aprovaram por unanimidade esse posicionamento. Já esperamos demais. Se não tivermos as demandas atendidas, vamos parar em todos os 28 municípios. Vai ser toda a Linha Verde, de Salvador até a divisa com Aracaju, incluindo as cidades de Rio Real e Esplanada. Aí pega a RMS também, exceto a parte dos transportes municipais, que não é com a gente”, diz o diretor do Sindmetro, Mário Cléber. Ao todo, são seis empresas: Nova Aviação, Atlântico Transporte, Asa Bela, Avanço Transporte, Costa Verde e Expresso Luxo Vitória, além da BTM, parada desde segunda-feira.
O Sindmetro aponta cinco reivindicações. São elas: empregabilidade imediata dos funcionários da empresa VSA, pagamento de salário de fevereiro dos funcionários da BTM, contratação imediata de uma empresa para assumir as linhas da BTM e requalificação tarifária da integração (que 50% da tarifa seja para o metrô e 50% para as empresas de ônibus). O diretor coloca que o reajuste da passagem não é uma solução no momento, já que a população seria penalizada.
Paralisação de atividades na BTM
Desde a última segunda-feira (14), os ônibus da Bahia Transporte Metropolitano (BTM) não circulam, causando transtornos para trabalhadores entre Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari. A empresa estaria passando por problemas financeiros, e a falta de abastecimento dos coletivos seria uma consequência dessa situação. “A gente foi pego totalmente de surpresa. Só avisaram que não teria a panha, aí a gente se deslocou para a garagem por conta própria. Quando chegamos lá, tinham 10 ônibus a menos e o restante estava sem combustível. O dono sumiu, não deu notícia”, conta um dos 367 motoristas da BTM, que preferiu não se identificar.
De acordo com o Sindmetro, a garagem ficou abandonada e os próprios rodoviários estão fazendo a segurança do local. “Os motoristas é que estão lá se revezando para fazer uma segurança mínima para que os veículos não sejam roubados, na esperança de que o local e os ônibus sejam aproveitados por uma nova empresa que venha assumir. Mas o dono fugiu sem pagar os salários de fevereiro”, diz Mário Cléber.
A Agerba informou que “está em fase final o trâmite para contratação emergencial de empresa que substituirá a operação da BTM, e será publicado em breve no diário oficial do Estado da Bahia”. As outras empresas integrantes do sistema, que paralisaram as atividades por 24 horas nesta quinta, estão dando apoio nas linhas operadas pela BTM até que a situação fosse normalizada.
Procurado, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) afirmou que oficiou a Agerba para obter informações quanto à interrupção do serviço de transporte metropolitano pela empresa BTM, bem como as medidas adotadas pela agência para garantir a prestação do serviço à comunidade atingida.
O Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA) disse que está acompanhando o caso e que denúncias de ilegalidades trabalhistas envolvendo a BTM foram feitas anteriormente, mas o caso foi arquivado após o início do processo de contratação de uma nova empresa para assumir as linhas.
Outras empresas à beira do colapso
De acordo com o sindicato, a situação da BTM não é isolada. Em janeiro deste ano, a VSA foi fechada, deixando os rodoviários desempregados. “Os trabalhadores estão sem saber o que vai acontecer. A empresa Avanço Transporte vai substituir, mas, para isso, a Agerba tem que liberar o cadastro da empresa para a contração dos trabalhadores, o que não aconteceu”, diz Mário Cléber. Segunda a Agerba, a Avanço Transportes assinou na quarta (16) o contrato para operação das linhas, que deve ser iniciada em 7 dias.
A empresa Costa Verde pode fechar a qualquer momento, aponta o Sindmetro. “A Costa Verde, nesta quarta, anunciou que não tem dinheiro para fazer os pagamentos de salário que estavam previstos para a próxima segunda (21). A empresa pode fechar a qualquer momento”, acrescenta o diretor do sindicato.
Segundo Mário Cléber, oito empresas de transporte metropolitano interromperam as atividades por problemas financeiros durante a pandemia e não voltaram a rodar, sendo quatro entre Salvador e RMS (que tinha um total de 11). São elas: Expresso Linha Verde, ATP Transportes, VCA e Castur. As outras quatro estão entre Alagoinhas e Paulo Afonso, essas de responsabilidade das prefeituras. “Dessas, os rodoviários da Expresso Linha Verde e da Castur não foram aproveitados e estão sem trabalhar”, diz o diretor.
Os rodoviários também reclamam do sucateamento dos veículos, apontam que dos 600 ônibus apenas 480 estão rodando desde o início da pandemia e que não há diálogo com a Agerba. “Agora foi o estopim. Estamos vivendo há anos o descaso do Governo do Estado com o transporte”, diz Mário Cléber. Além disso, os rodoviários apontam que o grande problema está no descompasso entre os valores da passagem.
“A nossa tarifa é menos do que a paga em Salvador, sendo que a gente percorre distâncias maiores. O ônibus que sai de Madre de Deus para Lauro de Freitas roda mais de 100 km numa tarifa de R$4,30. E metrô leva R$2,61 dessa tarifa e o empresário fica com R$1,69. Se o passageiro passar depois para um transporte urbano de Salvador, a gente fica só com R$1,02. É um absurdo com esse combustível que está aí, não tem empresa que aguente”, coloca o diretor do Sindmetro.
O Sindmetro afirma que, conforme orienta a lei, comunicou a população com antecedência sobre a paralisação e avisou a Agerba. Uma publicação foi feita na edição do Jornal A Tarde da última sexta (11). A Agerba nega que tenha sido comunicada e diz que está mantendo diálogo com as empresas e o sindicato. “A diretoria da Agerba está se reunindo para elaborar um plano emergencial, com o intuito de reduzir os danos causados a população”, diz a nota.
Fonte: Correio