22/04/2021 07h57
Foto: Divulgação
Nesta quinta (22) e sexta-feira (23), 40 líderes mundiais participam da Cúpula do Clima, convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para discutir um tema central: a mudança climática provocada pela emissão de gases de efeito estufa. A reunião de cúpula marca a volta dos Estados Unidos à negociação do clima. Segundo diplomatas, o Brasil vai tentar convencer de que está protegendo a Amazônia, em um esforço para mudar a imagem de párea ambiental.
O Brasil sempre participou ativamente do debate desde 1992, quando sediou a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente. Mas desde o início do governo Bolsonaro, vem recebendo críticas de outros países – especialmente, os europeus, que ainda não fecharam acordo com o Mercosul por causa da postura brasileira frente ao meio ambiente.
O presidente Jair Bolsonaro deve apresentar a proposta do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que os países ricos repassem dinheiro ao Brasil para bancar o combate ao desmatamento. Mas, os Estados Unidos têm sinalizado que quer primeiro ver resultados concretos do governo brasileiro.
Um levantamento do Instituto Imazon, divulgado esta semana, mostra que, em março, a Amazônia teve a maior taxa de desmatamento dos últimos dez anos. Nos primeiros dois anos do governo Bolsonaro, o Brasil também registrou recordes de desmatamento. Além disso, os incêndios florestais se espalharam pelo Brasil e as queimadas são a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no país.
Durante a cúpula, o Brasil será cobrado por esses números. O embaixador Marcos Azambuja, que foi o coordenador brasileiro na Rio 92, afirma que não basta o governo tentar mudar o discurso se não apresentar resultados concretos.
“O problema hoje é que nós damos a impressão de que estamos procurando ganhar tempo e um pouquinho enganar os outros. Em outras palavras, a opinião pública internacional não é enganável, o mundo não é ingênuo. O Brasil tem que de voltar a falar aquela linguagem transparente de quem acredita no que está dizendo, e não estar usando argumentos”, ressalta o embaixador Marcos Azambuja, conselheiro emérito do Cebri.
Entidades, organizações não governamentais, parlamentares e governadores mandaram cartas à Cúpula sobre o Clima criticando Bolsonaro. Num documento, parlamentares dizem que o governo tem como inimigos aqueles que atuam pela conservação da Amazônia.
A Comissão Arns, de defesa dos direitos humanos, afirmou que “o governo vem enfraquecendo sistematicamente os órgãos de gestão ambiental”.
Vinte e quatro governadores manifestaram a Joe Biden interesse em firmar uma parceria para desenvolver estratégias de proteção ao meio ambiente. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, diz que não se trata de concorrência com o governo federal.
“Precisamos que o presidente Bolsonaro entre no tema efetivamente. Nós também queremos entrar no tema efetivamente para que a gente possa colaborar com o Brasil na mudança da imagem e também para que a gente possa alcançar as metas estabelecidas na conferência das partes de Paris, em 2015, que o Brasil assumiu responsabilidade e compromissos nessa conferência das partes”, diz Casagrande.
O cientista Carlos Nobre, especialista em mudanças climáticas, diz que se o governo não mudar efetivamente de postura, o Brasil enfrentará prejuízos.
“Não dá para fechar os olhos, não dá para fazer de conta que, por milagre, as coisas vão na direção certa, principalmente na Amazônia. Há de haver um gigantesco esforço de mudar a postura política e prática. O Brasil está sendo visto globalmente como um pária ambiental, infelizmente. Mas é um fato concreto que não há como negar. E se o Brasil não inverter a destruição da Amazônia, o Brasil vai ter um enorme prejuízo. Um prejuízo de imagem, um prejuízo econômico para a economia brasileira”, afirma Carlos Nobre.
Fonte: G1