23/12/2022 06h04
Foto: Divulgação
Em um dos meus artigos, foram comemorados três anos da assinatura do contrato de arrendamento das fábricas de fertilizantes nitrogenados (Fafen-BA e Fafen-SE) da Petrobras, pela Unigel. A posse definitiva deu-se no dia 04/08/2020, inaugurando uma nova fase para as unidades industriais símbolos da industrialização do Nordeste. A da Bahia começou a ser arquitetada em 1962 e iniciou a funcionar em 1971, pressagiando que no mesmo local seria construído o maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul.
As duas manufaturas estavam sendo paralisadas pela Petrobras, que apesar de ser a fornecedora do gás natural e detentora de enorme experiência com a operação de 11 refinarias, não conseguiu torná-las rentáveis, desistindo de suprir o exuberante agronegócio brasileiro com importante insumo, alargando ainda mais a dependência externa com bilionárias importações.
As duas usinas estão funcionando bem depois de árduo trabalho de recuperação. Ainda estão para ser colocadas em operação uma fábrica de ácido nítrico e outra de sulfato de amônio, localizadas dentro do sítio das duas manufaturas. Dispendeu-se cera de R$ 500 milhões para colocá-las em funcionamento trocando máquinas, substituindo equipamentos, modernizando instalações, atualizando sistema de controle com troca de instrumentos, adotando práticas administrativas atualizadas, mais eficazes e de mais baixo custo, e acreditando na capacidade profissional dos técnicos recrutados, principalmente dos que já haviam atuado na operação dessas fábricas. De fundamental importância a presença de José Eduardo Lima Barreto e José Alberto Montenegro Franco, ex-diretores das Fafens e conhecedores plenos das plantas e dos colaboradores recrutados para o repto.
Para Henri Armand Szlezynger, controlador da Unigel que decidiu enfrentar o desafio, parecia a realização de uma tarefa simples, tal a certeza que tinha de conseguir êxito na operação. Afinal, ele já havia realizado proezas semelhantes na Bahia quando resolveu adquirir a Acrinor, a Metacril e a EDN para recuperar e pôr em funcionamento essas três importantes fábricas. A Acrinor fabrica acrilonitrila, substância usada na produção de fios acrílicos, que a Rhodia popularizou na confecção das blusas nas cores rosa choque, verde cheguei e azul pavão. A Metacril, antiga Paskim, é matéria-prima do MMA usado na fabricação das placas acrílicas, que conhecemos nos painéis luminosos, móveis e artigos de decoração. A EDN fabrica estireno, resina usada na confecção do nosso popular isopor, das caixas térmicas de nossas residências e do carnaval. Todos esses materiais iriam deixar de ser fabricados aqui para serem importados.
As duas fábricas ainda passam por processo de modernização e a cada dia melhoram suas performances. Isso as mantém competitivas e garantem a suas perpetuidades. Alguns fatores externos contribuíram para que avançassem no sentido de obterem boa rentabilidade. As duas plantas produzem amônia e ureia, esta última importante insumo na formulação de fertilizantes. A amônia é consumida como matéria-prima na fabricação de ureia e nos produtos de duas das três fábricas aqui citadas. Com vantagem elas deixaram de importar amônia do exterior para as ter em consumo cativo. Além disso, foram introduzidas melhorias que aumentaram a produção e produtividade de amônia, que passou a ter excedente exportável. Para melhorar o quadro, a elevação do preço do gás natural na Europa e na Ásia, motivada pela guerra da Ucrânia-Rússia e outros acontecimentos, fez aumentar o preço internacional da amônia em mais de 450%.
Algumas questões relacionadas com o excesso de burocracia, falta de vontade, orientação administrativa inadequada e capacidade de realização sofrível, para citar alguns fatores, mostram que a iniciativa privada consegue realizar coisas que o estado não consegue alcançar. O fato é que, neste caso das fábricas de fertilizantes nitrogenados, se conseguiu transformar um negócio falido no centro de melhor resultado do grupo Unigel. Ele, por certo, vai se fortalecer mais ainda quando colocar em funcionamento no próximo ano, as fábricas de ácido sulfúrico e hidrogênio verde que estão sendo construídas em Camaçari.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]
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