08/04/2025 07h29
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Imediatamente após o anúncio das novas "tarifas recíprocas" dos EUA, as companhias marítimas e despachantes de carga globais foram afetadas, resultando em uma queda nos preços de suas ações: a Maersk caiu 10%, a Hapag-Lloyd 9%, a ZIM 16,4%, a Kuehne & Nagel 8,5% e a DSV 5,3%. Também houve avaliações abrangentes do custo para as empresas dos EUA, com estimativas para importadores atingindo de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões por dia.
Peter Sand, analista chefe da Xeneta, descreve as enormes dimensões da política tarifária liderada pelo presidente dos EUA, Donald Trump: "Elas estão em uma escala sem precedentes, tanto geográfica quanto financeiramente. As tarifas revolucionarão o comércio global, e seu impacto será profundo e duradouro."
O analista da indústria marítima Lars Jensen espera que o anúncio da semana passada tenha um impacto imediato: "A demanda provavelmente cairá temporariamente na próxima semana, à medida que os importadores avaliam a situação, especialmente para produtos de alguns dos países afetados pelas tarifas mais altas, como China, Vietnã, Tailândia, Taiwan, Indonésia, Camboja, Coreia do Sul e Índia."
No médio prazo, ele aponta consequências mais sérias: “Uma recessão rápida pode mais do que acabar com a próxima temporada de pico, levando a uma situação em que a absorção contínua de capacidade da crise do Mar Vermelho é superada por uma queda acentuada na demanda, resultando em um equilíbrio fraco entre oferta e demanda e declínios contínuos nas taxas spot.”
Jensen, no entanto, não esquece as lições aprendidas nos últimos dois meses, o que lhe basta para sustentar que "é possível que esses níveis tarifários sejam ajustados ou temporariamente adiados no curto prazo".
Menos confiante naquele pequeno vislumbre de esperança, Sand alerta que “superar esses desafios será difícil, mas deve começar hoje. Se os proprietários de carga tiverem as ferramentas certas e estiverem dispostos a adotar novas abordagens para configuração da cadeia de suprimentos e aquisição de carga, eles podem ser mais fortes a longo prazo.”
O que fazer para conseguir isso?
Diante dessa mudança repentina e surpreendente no cenário do comércio internacional, a reação deve ser a mais rápida possível. Por isso, Xeneta apontou algumas estratégias que permitiriam aos donos de cargas enfrentar melhor essa transformação:
Monitore as rotas comerciais e acompanhe as tendências de mercado: as tarifas estão aumentando significativamente os custos de importação para os EUA, forçando as empresas a diferenciar entre os custos de frete marítimo e os custos totais de importação. À medida que as margens estão diminuindo, é essencial negociar de forma mais assertiva. Felizmente, as taxas spot têm mostrado uma tendência de queda.
Mantenha todas as opções em aberto: dada a magnitude das mudanças tarifárias, levará tempo para entender seus efeitos completos. No entanto, as empresas não podem esperar e devem manter a flexibilidade em seus contratos. Isso envolve explorar novas rotas, fornecedores e opções de fabricação, evitando acordos rígidos.
Simule cenários alternativos: o mundo mudou, e a incapacidade de se adaptar significa ficar para trás. As empresas devem demonstrar aos investidores e acionistas que têm um plano para mitigar o impacto das tarifas. Embora investimentos anteriores em países alternativos, como Índia ou Vietnã, possam ser afetados pelas novas tarifas, os dados podem ser usados para avaliar novas opções de origem e transporte.
Jogando pelas novas regras: As tarifas mudaram as regras do jogo: agora também se trata de conformidade criativa. Por exemplo, o Brasil, que tem um superávit comercial com os EUA, enfrenta uma tarifa de apenas 10%. Isso abre a possibilidade de enviar produtos da China para o Brasil, processá-los lá e depois exportá-los para os EUA como produtos de origem brasileira. Embora complexa, essa estratégia pode reduzir custos significativamente.
Considere que não se trata apenas de tarifas spot: mudar rotas envolve considerar outros fatores, como infraestrutura portuária, capacidade disponível, confiabilidade do cronograma e variações de tarifas entre as companhias marítimas. Por exemplo, uma companhia marítima com boas tarifas em uma rota direta pode ser muito cara em uma rota alternativa.
Avalie o uso de contratos indexados ao mercado: para aliviar a pressão sobre as equipes de compras em meio à volatilidade, uma opção é adotar contratos indexados ao mercado. Esses contratos ajustam automaticamente as taxas com base em limites acordados, reduzindo a necessidade de renegociações frequentes e permitindo o foco em estratégias de longo prazo.
Manter a confiança: apesar dos desafios, o comércio global demonstrou extraordinária resiliência, como durante a pandemia e a crise do Mar Vermelho. Hoje, mais do que nunca, as empresas têm dados e ferramentas para enfrentar esses desafios e manter suas operações funcionando.
Fonte: Mundo Marítimo